Quando as queimadas chegam, elas não chegam sozinhas. Elas já foram antecedidas pelo desmatamento –que pode ser de corte raso, com a retirada de toda a vegetação, ou desmatamento em que são derrubadas apenas algumas árvores, o que dificulta o registro por satélite. Segundo uma análise do WWF-Brasil, 31% dos focos de queimadas na Amazônia registrados até agosto deste ano localizavam-se em áreas que eram floresta até julho de 2018.
Apesar da queda no número de focos de queimadas em setembro, em relação aos dados para o mês dos anos anteriores, o acumulado do ano já registra aumento de 42% em relação a 2018. E, o desmatamento –a primeira etapa de todo processo– segue em alta. É preciso monitoramento e fiscalização para que o problema deste ano com o fogo não se repita — ou fique pior– na próxima estação de seca.
As legendas foram redigidas com análise de Ricardo Mello, gerente para a Amazônia do WWF-Brasil.

Esta foto tem elementos que são comuns em situação de grilagem. Observe que parte da terra foi retirada na borda da área que está sendo queimada — é um recurso chamado aceiro, usado para evitar que o fogo se espalhe. Um detalhe: há uma cerca no meio do traçado do aceiro e isso indica que quem está promovendo a queimada tem recursos para cercar a área e que existe uma preocupação em delimitar propriedade. Localização: sul da cidade de Itaituba e a leste da BR 163.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

Vista mais aproximada da foto anterior: repare que nem todas as árvores foram derrubadas para a queimada, o que sinaliza um processo mais lento de degradação da área. Assim, sem a limpeza total da vegetação, os satélites de monitoramento têm mais dificuldade em detectar desmatamento. Localização: sul da cidade de Itaituba e a leste da BR 163.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

De janeiro a setembro de 2019, foram registrados 66.750 focos de queimadas — o número é 42% maior que o do mesmo período em 2018 (46.968). Em alguns Estados, a situação foi ainda mais severa, caso de Roraima com 132% de aumento nesse número. Região da cidade de Novo Progresso.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

Vista mais aproximada da foto 3. A fumaça mais esbranquiçada é sinal de que o material que está queimando está úmido — e pode indicar que o fogo provocado pelo homem (queimada) escapou do controle e entrou na floresta mais densa e úmida, ou que a área não foi devidamente preparada (com os prévios cortes e secagem das árvores).
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

Uma equipe do WWF-Brasil sobrevoou a região sul do Pará e norte do Mato Grosso entre as cidades de Itaituba, Novo Progresso, São Félix do Xingu e Guarantã do Norte. A equipe pode verificar que a Amazônia ainda está queimando. Para se ter uma idéia, entre as cidades de Guarantã e Itaituba, em um período de 3 horas, foram observados 18 pontos de fumaça.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

As cidades da região do Sul do Pará figuram no ranking dos locais com maior número de focos de queimadas — toda a porção Sul do bioma Amazônia sofre intensa pressão de desmatamento e grilagem de terras.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

Nesse detalhamento das fotos 5 e 6, um registro poético da destruição. Obra do fotógrafo Araquém Alcântara, com quem o WWF-Brasil fez uma parceria para o registro das queimadas e da destruição da Amazônia. Com 50 anos de profissão, Araquém já vistou a região mais de 30 vezes, registrando a natureza e o povo amazônicos.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

Foto retirada em sobrevoo do WWF-Brasil na região Sul do Pará entre os dias 23 e 24 de setembro de 2019. O fogo ainda arde nas clareiras abertas pelo desmatamento. A área total de alertas de desmatamento na Amazônia brasileira em 2019 nos primeiros 12 dias de setembro cobriu 7.129 km2. Ele cresceu significativamente quando comparado à média dos últimos dez anos (aumento de 148%).
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

A queimada é utilizada para limpar a área, uma vez que reduz o volume do material resultante do corte das árvores — e deixar o terreno livre para a agricultura ou pecuária. Ao colocar fogo no material, há também um benefício de curto prazo na fertilização do solo. Cortar, queimar e colocar gado no pasto é uma estratégia frequentemente utilizada para futura comprovação de posse da terra em terras devolutas (terra públicas sem destinação).
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil

As queimadas fazem parte da prática agrícola da região. Mesmo após a derrubada e queimada da área para a pastagem, o fogo é utilizado na mesma área para renovação da pastagem ou mesmo para sua “limpeza”. O fogo provocado por ação humana acontece sazonalmente na Amazônia quando as condições se apresentam (material seco a ser queimado e baixa umidade do ar). No entanto, em 2019, os recordes de desmatamento levaram aos recordes de queimadas. O alerta que deve ficar é: as chuvas devem chegar, mas o desmatamento não dá trégua. A floresta ainda está em perigo.
Créditos: © Araquém Alcântara/WWF-Brasil